A Rádio Gaúcha faz uma blitz nesta sexta-feira (10/07) em hospitais de Porto Alegre, Região Metropolitana e de municípios do interior para conferir a situação das unidades após o corte de repasses do governo estadual. NoHospital de Clínicas, pacientes do SUS aguardam em média uma semana para conseguir um leito.

Por causa da superlotação na emergência, só pacientes graves são atendidos no Clínicas. São 41 leitos na unidade, mas 120 pacientes estão no local. A recomendação para casos menos graves é procurar atendimento em outras unidades.
"Nós notamos nas últimas emanas aumento do número de pacientes de outros municípios. Mas mantemos a mesma política de atendimento, baseada na classificação de risco, atendendo somente os com maior gravidade", disse em entrevista à Gaúcha o gerente operacional da Emergência, José Pedro Prates.
O diretor-geral da Santa Casa, Júlio Matos, confirmou que já há reflexos da restrição de atendimentos a pacientes do interior na emergência do SUS. No entanto, ele frizou que o problema dos hospitais não é o número de leitos.
"Leitos hospitalares existem suficientes no Rio Grande do Sul. O que falta é capacidade de recursos para que os hospitais possam se manter operando e acabam não tendo condições de se manter operando e isso acumula nos grandes hospitais", afirmou.
A Santa Casa tem recebido um número muito superior de pacientes do interior do Rio Grande do Sul nas últimas duas semanas. Segundo a direção, os 770 leitos destinados ao SUS estão lotados. Os 26 leitos de emergência estão ocupados e só são atendidos casos gravíssimos. Pacientes estão nos corredores, em macas. A Santa Casa atendeu de 2014 até agora, pacientes de 424 municípios.
Situação semelhante ocorre na emergência do Hospital Conceição, que está com superlotação nesta manhã. São 145 pacientes em 64 leitos disponíveis na instituição. Na sala vermelha, onde são atendidos os casos mais graves, oito pacientes ocupam seis vagas. Além disso, pessoas com estado gravíssimo são atendidas em salas para menos gravidade.
Na UPA Zona Norte, o movimento é tranquilo. A orientação é que casos menos urgentes procurem essas unidades.
Ontem, a prefeitura da Capital confirmou uma ação judicial para cobrar do Estado os valores atrasados para a área da saúde. O prefeito disse que a falta de verbas provoca restrição no atendimento na cidade, que é um polo de atendimento a pacientes do interior.
Espera de 5 anos por atendimento especializado
Janaina Oliveira, moradora de Torres, chegou por volta das 8h no Hospital Universitário da Ulbra, em Canoas. A consulta está marcada para as 13h. No entanto, a espera por atendimento de uma médica gastroenterologista é maior e já dura cinco anos desde o primeiro encaminhamento.
Nos últimos meses, entrou em contato novamente com o clínico geral do município para pedir na Justiça o atendimento, quando conseguiu ser atendida, mesmo que em outra cidade.
Segundo a Secretaria de Saúde de Canoas, a demanda externa tem aumentado no último mês, mas teve crescimento significativo nesta semana. Nesta sexta feira, todas emergências estão com lotação, mas operam sem restrição.
Interior do Estado
O valor de recursos atrasados passa dos R$ 32 milhões às secretarias de saúde e aos hospitais da Região Sul. Com isso chega a nove o número de cidades que tiveram os serviços de saúde restritos devido à falta de repasse de verbas: Jaguarão, Canguçu, Arroio Grande, Candiota, Capão do Leão, Morro Redondo, Pinheiro Machado, Santana da Boa Vista e São Lourenço do Sul.
Em Santa Maria, a prefeitura vai anunciar hoje que medidas podem ser tomadas diante da crise na saúde: se o município entra na Justiça na tentativa de garantir recursos ou se decreta estado de calamidade, possibilidade cogitada pelo prefeito Cezar Schirmer. A prefeitura afirma que usou R$ 8 milhões de outras áreas no ano passado para cobrir o déficit da saúde. Por conta da falta de repasses, o Hospital de Caridade Alcides Brum deixou de atender pelo SUS e o hospital Casa de Saúde disse que se a situação não for normalizada, alguns serviços também serão suspensos. E como Santa Maria é um pólo para a região, se houver falta de repasses para hospitais de municípios menores, pode haver uma superlotação do Hospital Universitário de Santa Maria, que já aumentou o número de atendimentos em função da suspensão de serviços em outros hospitais.
Na Serra há restrição de atendimento no Hospital Pompeia de Caxias do Sul, que projeta para o final do mês de julho, se não houver o repasse, o fechamento de sete leitos de UTI e 11 leitos de enfermaria. O Hospital Pompeia acumulou nos primeiros seis meses do ano um prejuízo de R$ 4,6 milhões. Diante da crise provocada pelo não repasse de verbas do Estado, o prefeito de Caxias do Sul, Alceu Barbosa Velho (PDT), não descarta ampliar a contribuição do município para garantir atendimentos. Desde outubro do ano passado a Fundação Universidade Caxias do Sul é quem repassa R$ 500 mil por mês para manter o hospital, mas esse valor não poderá mais ser pago. A restrição no atendimento é constatada também nos hospitais de Flores da Cunha, Farroupilha e Antônio Prado.
Fonte: (Gaucha)