Equivocadamente, para muitas pessoas ainda persiste o mito de que mulheres devem suspender a ida ao dentista durante a gravidez. Mas os especialistas ressaltam que a conduta delas deve ser exatamente o contrário, já que a gestação interfere significativamente na saúde bucal das futuras mamães.
“A quantidade de hormônios influencia não só o comportamento, como a fisiologia, até a saliva muda. Antes tinha o tabu de que não podia nem passar na porta do dentista, não poderia tomar anestesia, não podia tratar canal. A mulher sofria com dores e não se podia fazer nada. Isso evoluiu bastante”, explica Sérgio Conrado (CRO: 18055), especialista em periodontia da GOU Franquias.
Obviamente, o cuidado com a mãe deve correr em paralelo com o do bebê, o pré-natal odontológico é inclusive altamente recomendado. Doenças periodontais, por exemplo, podem prejudicar a formação do feto durante o primeiro trimestre de gestação ou resultar em um parto antes da hora.
“Quando o casal toma a decisão de engravidar é superimportante que a saúde bucal da mulher esteja em dia porque qualquer procedimento que tenha que ser feito, seja pequeno ou grande, é muito mais tranquilo para o dentista intervir quando a mulher não está grávida”, pondera Hugo Rosin, diretor executivo da DVI Radiologia Odontológica.
Num cenário ideal, é melhor fazer um check-up antes de engravidar. Porém, se não for possível, vale ainda visitar o dentista para uma avaliação e avisá-lo sobre a situação quando a gravidez for descoberta.
A cárie é uma das doenças bucais que têm maior prevalência entre as grávidas, isso acontece porque as gestantes tedem a ter maior apetite e se alimentam com maior frequência. Mas nem sempre escovam os dentes após cada lanchinho. Outra doença bastante frequente é a inflamação de gengiva ou gengivite, também causada pelo acúmulo de restos de alimentos. Ambas podem ser prevenidas com escovação completa, com uso de fio dental.
“Estamos falando de situações extremas, mas se eu deixar uma condição de gengiva inflamada evoluir sem intervenção nenhuma, estarei expondo a paciente a um risco de infecção maior e pode levar a complicações sérias sim: você pode ter desde alguma má-formação no feto, se isso acontecer no primeiro trimestre, ou expor o feto a uma medicação desnecessária”, avalia Rosin.
Conrado concorda e alerta: “A grávida tem que buscar acompanhamento odontológico. Uma gengivite, uma cárie ou uma obturação malfeita podem provocar um parto prematuro.”
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É importante que as grávidas façam um pré-natal odontológico, tanto para a saúde bucal das mamães quanto para a dos bebês
Raio-X e analgésicos são permitidos?
Tanto Rosin quanto Conrado defendem que a gestante faça uso de anestésicos durante os procedimentos odontológicos, desde que eles não contenham vasoconstritores em sua formulação – embora essas substâncias ampliem a duração da anestesia, elas podem prejudicar o desenvolvimento do feto.
Exames de raio-X também estão liberados às mulheres grávidas, desde que elas se protejam com um avental ou colete de chumbo, conforme determinação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
As gestantes não precisam, a princípio, tomar doses extras de flúor ou cálcio para favorecer a saúde bucal do bebê. No entanto, caso seja constatada defasagem desses nutrientes, um médico poderá avaliar a suplementação.
Vale destacar que o tratamento bucal da gestante será programado pelo dentista em parceria com o ginecologista. Ambos irão analisar o quadro clínico da futura mãe e avaliar os cuidados e os medicamentos mais adequados para cada caso.