"É um mal silencioso", diz mulher que culpa anticoncepcional por embolia pulmonar
Foi com uma dor na virilha que os piores problemas de saúde da vida de Keila Leite, 38 anos, começaram. Diagnosticada com tendinite na perna e problemas cervicais, a professora universitária tomou anti-inflamatórios e, um mês depois de iniciar o tratamento, começou a sentir os efeitos do que, na verdade, era muito mais do que uma questão muscular — Keila sofreria em breve uma embolia pulmonar que quase a mataria, tudo por conta do anticoncepcional que tomava desde os 18 anos de idade.
A receita, prescrita no final da adolescência pela ginecologista de Keila, era obviamente também para evitar uma gravidez indesejada, mas tinha como objetivo maior dar fim às enxaquecas frequentes e a problemas estéticos que incomodavam a professora, como a acne acentuada.
— Antes, eu tomava um comprimido. Agora, são seis comprimidos diários. Um para circulação, um para batimentos cardíacos, outro para pressão. Só o anticoagulante custa R$ 200.
O dinheiro talvez não seja o maior dos males de Keila atualmente. Em repouso absoluto, de licença médica, ela vem de uma longa jornada que inclui dois dias na UTI e visitas a dez especialidades médicas diferentes.
— Todos eles suspeitam que a pílula anticoncepcional tenha gerado meu problema. Eu não fumo, não bebo, não tinha nenhum fator de risco. Fora que não tive problema algum aparente durante o uso da pílula, nem mesmo dor de cabeça. Não tinha varizes, má circulação, minha perna não inchou nem depois da trombose na virilha que causou a embolia. É um mal silencioso, você não sabe o que está acontecendo.
Criadora da página no Facebook Vítimas de Anticoncepcionais — Unidas a Favor da Vida, a professora Carla Simone Castro começou a tomar pílulas aos 40 anos, para tratar de um mioma.
— Eu queria fazer uma cirurgia, mas a médica insistiu que eu teria menos problemas com a pílula. Ela pediu exames cardíacos e de taxas sanguíneas. [Com a pílula] A cólica melhorou, a pele ficou menos oleosa.
No entanto, pouco tempo depois Carla começou a apresentar sinais de que algo não saía como o previsto. Dores de cabeça, visão dupla e um diagnóstico errado de sinusite acabaram levando a uma convulsão e à internação na UTI. Ao todo, ela passou 120 dias no hospital, depois de sofrer três AVCs e passar por duas cirurgias no cérebro.
Por causa de uma trombose cerebral grave, Carla ficou sem andar por 45 dias, e cega por dois meses. Em sua segunda operação, teve como consequência a paralisia da prega vocal direita e também da deglutição. Hoje, enfrenta dificuldades para falar e comer.
— Os médicos afirmaram categoricamente que havia uma conexão do problema com a pílula. Eu não tinha nenhum outro fator de risco. Ficou um sentimento de ter sido lesada. Eu fiz tudo certo. Tomei com receita médica, procurei a melhor profissional médica da cidade, fiz exames. Sempre tive uma vida saudável. Fui envenenada.
Tanto Carla quanto Keila afirmam que, se tivessem conhecimento dos riscos que corriam, provavelmente escolheriam outro método anticoncepcional (Confira a tabela comparativa com os diferentes métodos de planejamento familiar no pé da matéria). E, para contar sua história e alertar sobre os cuidados necessários na hora de se tomar a pílula, Carla criou a página no Facebook no final de 2014, e que já conta atualmente com mais de 75 mil pessoas.
— Se eu soubesse sobre a possibilidade de ser trombofílica mesmo não tendo casos na familia, eu jamais teria tomado. É por isso que este movimento existe, pelo direito à informação. Mulheres trombofílicas não podem tomar hormônios.
Fonte: (R7)